
Manifestantes tomaram as ruas de Salvador na manhã deste domingo (14) para protestar contra o feminicídio, em uma passeata que teve início às 10h, no Morro do Cristo, e seguiu até o Farol da Barra. Ao longo do percurso, ativistas e participantes se revezaram no microfone para fazer declarações, enquanto entoavam gritos e exibiam cartazes com frases como “a mão que te acaricia é a mesma que te mata” e “quantas mulheres mais precisam gritar para vocês ouvirem?”.
O ato foi convocado pelo movimento Levante Mulheres Vivas e integra uma mobilização nacional que ocorreu em outras capitais brasileiras no último domingo (7), motivada pela escalada dos assassinatos de mulheres por razões de gênero. De acordo com dados do Monitor de Feminicídios no Brasil (MBF), desenvolvido pelo Laboratório de Estudos de Feminicídios da Universidade Estadual de Londrina (LESFEM/UEL), entre janeiro e outubro de 2025 foram registrados ao menos 5.582 casos de feminicídios consumados ou tentados no país, sendo 370 deles na Bahia.
Entre os grupos presentes esteve o coletivo Divas de Batom, que levou um banner com a frase “violência contra a mulher não tem desculpa, tem lei! Agredir uma mulher é crime e dá cadeia!”. Criado inicialmente para incentivar atividades físicas e fortalecer a autoestima feminina, o grupo também se consolidou como símbolo da luta contra a violência de gênero. “Há oito anos a gente luta pela prevenção contra feminicídio. Porque nós não somos contra os homens. A gente é contra os covardes que cometem violência”, afirmou Rosângela Madureira, de 54 anos, idealizadora do projeto.
Durante a caminhada, participantes relembraram vítimas de violência extrema, como Laina Santana Guedes, de 37 anos, assassinada a marretadas em Lauro de Freitas em agosto deste ano, e Rhianna Alves, mulher trans morta aos 18 anos em Luís Eduardo Magalhães no último dia 6. Além disso, histórias pessoais também marcaram o ato, como o relato da jornalista Clara Oliveira, de 24 anos, que destacou o impacto duradouro da violência doméstica em sua vida e defendeu mais conscientização e políticas públicas. “Eu só espero que essas manifestações tragam uma conscientização mais forte e políticas públicas de maneira geral”, disse.
Famílias também participaram da manifestação, levando crianças como forma de introduzir o debate sobre gênero e feminismo desde cedo. Os professores Maria Simone, de 44 anos, e Jefferson Santos, de 45, compareceram com a filha Naomi, de 10 anos, ressaltando a importância de discutir o tema, sobretudo diante do recorte racial do feminicídio. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 63,6% das vítimas de feminicídio no Brasil em 2024 eram mulheres negras.
Além das pautas centrais, o ato exibiu cartazes contra o chamado “PL da Dosimetria”, aprovado na última quarta-feira (10), e contra o marco temporal das terras indígenas. Durante a manifestação, também foram divulgadas informações sobre canais de denúncia de violência contra a mulher, como o Ligue 180, o Disque 100, os números 190 e 181 da Polícia Militar da Bahia, além do atendimento presencial nas Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs) e nos Núcleos Especiais de Atendimento à Mulher (NEAMs).