
O conceito de uma cidade de relevância global pode ser subjetivo, mas os sítios designados pela Unesco como Patrimônio Mundial servem como guardiões da identidade cultural de um povo. Na tentativa de ganhar tal reconhecimento, o município baiano de Cachoeira, um antigo centro econômico do século XVIII, celebra seu 187º aniversário e dá um passo crucial ao pleitear sua inclusão na prestigiosa lista.
Durante as comemorações do aniversário, uma importante cerimônia na Igreja da Ordem Terceira do Carmo marcará a entrega de um pedido para a preparação de um dossiê, que visa justificar a inclusão de Cachoeira como patrimônio mundial ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Esta solicitação inicia um processo detalhado de avaliação dos tesouros culturais da cidade, que, se aprovado, colocará Cachoeira ao lado de outros renomados sítios brasileiros já reconhecidos pela Unesco, como o Centro Histórico de Salvador e de Olinda.
A museóloga Gislaine Calumbi, natural de Cachoeira e autora de uma tese de mestrado sobre a conservação do patrimônio arquitetônico local, defende o reconhecimento da cidade, citando a rica herança dos casarões coloniais e a vitalidade de suas tradições culturais. Ela enfatiza a coexistência da história oficial com as práticas religiosas afro-brasileiras atuais, que juntas criam uma cultura diversificada e rica.
Historicamente, Cachoeira foi um importante entreposto comercial na rota do fumo e do açúcar do Recôncavo baiano para o mundo, destacando-se também como um centro político relevante, chegando a hospedar D. Pedro I e D. Pedro II. A cidade teve um papel proeminente no movimento pela independência do Brasil, mas viu sua influência declinar no século XX com mudanças socioeconômicas regionais.
Ainda assim, Cachoeira continua a ser um foco de efervescência cultural, com suas festividades, práticas religiosas e eventos culturais atraindo atenção. A museóloga Calumbi salienta que o reconhecimento como Patrimônio da Humanidade não só validaria a rica herança de Cachoeira, mas também incentivaria maiores investimentos e preservação.
Com uma população de aproximadamente 29.250 pessoas, Cachoeira aspira ao reconhecimento da Unesco, esforço agora apoiado pelo secretário de Cultura local, Marcelo Souza, que vê na candidatura uma oportunidade longamente esperada de destacar a história e a importância da cidade no cenário mundial.
Para um bem ser considerado patrimônio mundial, os países membros da Convenção do Patrimônio Mundial da UNESCO devem indicá-lo, sendo o processo de seleção anual e envolvendo uma rigorosa avaliação por parte de um comitê especializado. A definição de Patrimônio Cultural da UNESCO abrange uma ampla gama de locais de importância universal excepcional, incluindo, mas não limitado a, monumentos e sítios com significado histórico, estético, arqueológico e cultural.